Mal-estar do PSB com Lula em meio a indefinições sobre a reforma ministerial dificulta a possibilidade de um acordo na capital
Com a aposta do PSB no lançamento da deputada federal Tabata Amaral à Prefeitura de São Paulo em 2024, o vice-presidente da República Geraldo Alckmin e o ministro Márcio França (Portos e Aeroportos) têm atuado para fortalecer a pré-candidatura da parlamentar na capital paulista.
Além de ajudarem na definição da estratégia eleitoral e no contato com lideranças políticas, Alckmin e França escalaram seus familiares para a pré-campanha de Tabata.
Segundo integrantes do PSB, Alckmin tem apresentado à deputada lideranças políticas, comunitárias, empresários e entidades de classe; orientado sobre a estratégia da pré-campanha e buscado o apoio de ex-filiados do PSDB. O vice-presidente é um dos fundadores do PSDB, foi governador por quatro mandatos em São Paulo pelo partido e mantém um bom diálogo com tucanos no Estado.
Nos fins de semana, Alckmin costuma despachar na sede estadual do PSB na capital paulista e em padarias, reunindo-se com políticos, representantes de entidades de classe e com ex-integrantes do governo paulista. O vice-governador tem atuado na pré-candidatura de Tabata na capital e negociado a filiação de prefeitos e vereadores no interior.
A pré-campanha de Tabata tenta atrair o PSDB para a vice e negocia com a ala tucana que resiste a um acordo com o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), sobretudo depois que ele se aproximou do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O diretório municipal tucano, no entanto, declarou apoio a Nunes.
Além de Alckmin ajudar na aproximação da deputada com lideranças sociais, Lu Alckmin, esposa do vice-presidente, também participa da pré-campanha.
Presidente estadual do PSB, o ministro Márcio França tem trabalhado nas costuras políticas da pré-candidatura, em conversas com lideranças nacionais do PDT, PT e Psol. Deputado estadual e filho do ministro, Caio França está no dia a dia da pré-campanha e participa de reuniões políticas com a parlamentar. “É uma [pré] candidata com baixa rejeição e que já é muito conhecida. Ela não é da esquerda mais radical e pode atrair um eleitorado progressista, mas que é conservador em alguns temas”, disse Caio França. Lucia França, esposa de Márcio, também atua na pré-campanha e será candidata a vereadora, para puxar votos para a bancada na capital.
A deputada recebeu o aval de dirigentes nacionais do PSB para concorrer em 2024, como o presidente do partido, Carlos Siqueira; o governador do Espírito, Renato Casagrande, e o prefeito do Recife, João Campos, além de Alckmin e França. O partido garantiu recursos para a pré-campanha, tem discutido apoio com o PSDB e o Avante e negociado com marqueteiros.
PSB descarta acordo
Lideranças nacionais do PT, do Psol e do PSB conversaram sobre a possibilidade de ter um candidato único na cidade. A ideia era reproduzir a mesma frente ampla que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado, com os partidos de centro-esquerda juntos, mas a proposta não avançou.
O PSB afirmou ao PT que não desistirá da pré-candidatura para compor com o líder do Psol na Câmara, Guilherme Boulos, que é apoiado pelos petistas. O partido alegou que desistiu da candidatura de Márcio França ao governo do Estado em 2022 para apoiar o PT e agora precisa reforçar a sigla em São Paulo.
Caio França lembrou que o PSB teve um desempenho eleitoral melhor do que o PT na capital em 2020. Seu pai, Márcio França, ficou em terceiro lugar, com 13,64% dos votos, à frente do então candidato petista Jilmar Tatto, que teve 8,6%. Boulos foi para o segundo turno, mas perdeu para o então prefeito Bruno Covas (PSDB).
O parlamentar disse que o PSB optou por não fazer uma federação com o PT na eleição passada para poder ter seus próprios candidatos nestas eleições. “Não tem sentido não apresentar agora uma candidatura em São Paulo”, afirmou. Se os dois partidos estivessem federados, teriam de apoiar o mesmo candidato.
O PSB afirmou ainda que apoiará o PT em cidades da região metropolitana da capital, como Mauá, Diadema e São Bernardo do Campo.
Boulos, que deve ter o PT na vice, descartou a possibilidade de apoiar outro nome.
Dirigentes do PSB avaliam que o mal-estar com Lula, em meio a indefinições sobre a reforma ministerial, dificulta a possibilidade de um acordo. Os ministérios de França (Portos e Aeroportos) e de Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços) são alvos de pedidos do Centrão e o partido pode perder espaço no governo.
Com as duas pré-candidaturas de esquerda, Lula e Alckmin devem ficar em palanques distintos.
A divisão no campo progressista em São Paulo é diferente do que acontece na centro-direita. O prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes tem construído uma ampla aliança e busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro para ser o candidato único da direita.
Tabata evitou falar sobre a pré-candidatura. Ao Valor, disse que o foco neste ano é o seu mandato.
A parlamentar é presidente do diretório municipal do PSB na capital. A pré-candidatura é vista no partido como uma forma de ajudar o PSB a se fortalecer em São Paulo. Na Câmara Municipal, a sigla só tem um dos 55 vereadores, Eliseu Gabriel. A projeção é eleger quatro ou cinco parlamentares.