Baixe aqui a íntegra da pesquisa
Pesquisa realizada pelo Ibope e o Instituto Patrícia Galvão indica que 71% dos brasileiros consideram muito importante alterar a legislação eleitoral do país para garantir metade de mulheres nas listas de candidaturas apresentadas pelos partidos. O levantamento foi realizado em abril, antes dos protestos que tomaram as ruas em todo o país.
O estudo aponta ainda que 78% da população defendem a obrigatoriedade de divisão meio a meio das listas partidárias e 73% aprovam punições às legendas que não apresentarem paridade entre os dois sexos nas suas candidaturas.
A legislação brasileira atual reserva apenas 30% das candidaturas e 10% do tempo de propaganda eleitoral para cotas de sexo. E o projeto de reforma que está em debate na Câmara dos Deputados prevê a alternância de gênero somente a cada três posições das listas de agremiações.
Para o demógrafo do IBGE José Eustáquio Diniz Alves, “o sistema atual prejudica particularmente as mulheres. Como as mulheres não estão nas estruturas partidárias, elas não ocupam os principais cargos dos partidos, então também não têm acesso adequadamente ao tempo de televisão, aos recursos financeiros, à rede de capital político desse partido. De um modo geral, o sistema eleitoral brasileiro é muito ruim para garantir um avanço das mulheres na vida política brasileira”.
8 em cada 10 entrevistados consideram que as mulheres deveriam ter acesso a metade dos cargos no legislativo
O levantamento também mostra que 80% dos brasileiros consideram que deveria ser obrigatória a composição dos legislativos municipais, estaduais e nacional por metade de mulheres.
Hoje o Senado Federal tem apenas oito senadoras em exercício num universo de 81 integrantes, e somente uma das 11 comissões permanentes da Casa é presidida por mulher. Na Câmara, somente 40 são mulheres entre os parlamentares em cumprimento efetivo do mandato (outras três renunciaram e três estão licenciadas). E também só uma das 21 comissões permanentes tem uma deputada à frente.
Para a socióloga Silvia Camurça, da ONG SOS Corpo, a demanda por mais mulheres na política de forma tão consistente é reflexo do anseio da população por mudanças. “As pessoas estão muito cansadas de parlamentares que fazem das sucessivas reeleições a sua vida. E pedindo a renovação, novos quadros, sejam mulheres, indígenas, quilombolas, homens, gays, lésbicas. Enfim, a diversidade da população. E nós mulheres somos um indicador de renovação porque estamos quase excluídas da política institucional. Também há, talvez, uma avaliação de que quem nunca esteve na política ao entrar tem a possibilidade de ser menos corrompido por ela e, portanto, de renovar positivamente as práticas políticas. E acho que isso é transferido às mulheres”, afirma.
Maioria entende que lei deve mudar para garantir igualdade entre homens e mulheres em cargos políticos
Para 74% dos entrevistados só há democracia de fato com a presença de mais mulheres nos espaços de poder e tomada de decisão. A maioria (76%) também entende que a ampliação do acesso das mulheres aos espaços de poder deveria ter garantia legal, tanto no que se refere a cargos nos legislativos das três esferas de poder da Federação, quanto dentro dos partidos.
Essa compreensão tem mais ênfase entre os pesquisados de classes sociais mais baixas e menor escolaridade, o que pode refletir um aumento da percepção da importância da política na vida cotidiana para as camadas que ingressaram recentemente no mercado de consumo e na chamada “nova classe média”.
“Reforma política tem a ver com serviços públicos, orçamento, se põe dinheiro aqui ou lá. No futebol ou na educação. Ficou claro isso, que o hospital que atende no corredor tinha que ter um padrão Fifa”, analisa a especialista em pesquisas de opinião pública Fátima Pacheco Jordão.
Para Fátima, essa mudança de percepção evidencia uma mudança de consciência da população. “O cidadão brasileiro saiu de casa, do doméstico para a rua. Da porta para dentro, o cidadão teve enormes conquistas nos últimos 20 anos: poder aquisitivo, melhorias de processos de fabricação, produtos mais sofisticados e segmentados. Mas da porta para fora, que envolve transportes, hospitais, educação, segurança de ir e vir, o pagador de impostos está demandando seus direitos. É isso que mudou no Brasil. Neste novo século foi introduzida essa elevação de patamar do cidadão, que de consumidor passou a usuário e como usuário quer ser um eleitor que ao votar obtém os resultados do sistema político e do Estado”.
A pesquisa
Os resultados da pesquisa serão encaminhados também a parlamentares, secretarias responsáveis por políticas para as mulheres nos três níveis de poder e movimento social de mulheres. Foram realizadas 2.002 entrevistas em 143 municípios de todas as regiões do país, nas quais foram ouvidos brasileiros maiores de 16 anos, entre os dias 11 e 15 de abril. A margem de erro é de 2% para mais ou menos.