Eleita em 2005, no IV Congresso de Mulheres Socialistas, Dora Pires, exerce a função até os dias de hoje cumprindo, assim, o 4º mandato como Secretária Nacional de Mulheres do PSB. Também foi Secretária Estadual de Mulheres do PSB de Pernambuco e atualmente é Secretária Especial da Mulher do Ipojuca/PE.
Dora deu continuidade ao trabalho de organização e fortalecimento da Secretaria Nacional de Mulheres do partido, ao trabalho de formação política, a criação e organização de secretarias estaduais, hoje com núcleo em todos os estados e, também empreendeu esforços, em especial, ao incentivo às candidaturas femininas.
Durante os mandatos, Dora Pires vem incentivando a presença das mulheres socialistas nos fóruns de debates nacionais, de mulheres partidárias, e promove grande estímulo nas relações internacionais, construindo a interlocução da Secretaria Nacional de Mulheres do PSB com Fóruns de discussões internacionais e com as secretarias de mulheres de partidos políticos da América Latina.
SNM – Como foi o processo de criação da SNM?
Dora – Foi em 1999. O processo de criação, em si, foi muito gratificante para todas e todos que se envolveram. Estávamos vivendo um momento que exigia discussões de gênero dentro dos partidos e o momento era um pouco mais favorável para as mulheres que vinham se firmando mais nos partidos políticos. Nessa época alguns partidos já contavam com secretaria de mulheres e no PSB já existia no Mato Grosso do Sul (MS) e no Rio Grande do Sul (RS).
O processo nacional foi embrionado por Mari Trindade, que articulou uma mobilização em que reuniram-se, no Rio de Janeiro, no início de 1999, resultando em grande estímulo nos estados e permeando o caminho para a criação das secretarias estaduais e nacional nos congressos daquele ano.
Dr. Arraes, que era um homem com visão além do seu tempo, comprou de imediato a ideia de nos apoiar. Carlos Siqueira também foi um grande parceiro nesse processo, fez várias costuras, inclusive para que fizéssemos nosso primeiro congresso, no qual elegemos a Mari nossa 1a secretaria nacional e passássemos a ter assento na Secretaria Executiva Nacional do PSB. Neste momento, nasce o primeiro núcleo nacional com a competência de implementar as discussões de gênero no partido – A Secretaria Nacional de Mulheres do PSB.
Era latente a necessidade de que esse movimento se consolidasse no Partido, vide o fato de que mais de 500 companheiras estavam presentes no I Congresso Nacional de Mulheres do PSB. Elegemos Mari Trindade (RS), que assumiu a SNM por três mandatos. O trabalho foi intenso, pois era necessário identificar lideranças estaduais, organizar o segmento.
SNM – Como foi fazer parte da primeira executiva nacional de mulheres?
Dora – Essa é uma experiência que vou guardar para sempre. Fiz parte de todas as executivas de mulheres do PSB até hoje. Três mandatos como secretária geral e quatro como secretária Nacional, mas nada como o primeiro mandato. Mari conduziu esse momento com afinco, com muita competência e nos estimulando incansavelmente, e todas nós, como dizia nosso inesquecível Eduardo Campos, “nós pregávamos no trabalho com vontade”.
Era um momento de muitas reflexões sobre o Brasil e um momento significativo de crescimento do PSB. No VIII Congresso Nacional, o discurso de Dr. Arraes, então presidente do Partido, eu me lembro bem, ele ressaltou as dificuldades que o Partido passou para finalmente chegar àquele momento. “Aquilo que não tem raízes cai, desaparece. E vejo que nosso Partido começa a fincar mais profundamente suas raízes”, foram as palavras dele (Dr. Arraes) e está escrito nos anais daquele Congresso. Isso foi o que mais me marcou naquele dia e o que me deixou ainda com muito mais orgulho de ser sua liderada e fazer parte do que estava por vir.
A secretaria de mulheres nasceu com esse espírito. O espírito de construir e avançar sempre. Lutar ininterruptamente. Buscar se fazer presente em todas as instâncias dentro e fora do Partido. A luta e a perseverança das mulheres são marcas da história feminista e são a nossa marca. Todas as conquistas vieram pela dedicação e pelo desejo de abraçar a ideia de que as mulheres são cidadãs importantes e necessárias na construção de uma sociedade equilibrada, harmoniosa e, de fato, justa. Essa é, sem dúvida, a causa das mulheres.
SNM – Fale sobre os avanços partidários de gênero. Quais os avanços no PSB?
Dora– Hoje podemos dizer que já são muitos, mas ainda longe de alcançarmos o ideal. Estamos assistindo a um momento nacional de grandes transformações sociais, mas também uma crise moral e de credibilidade agudas e sem precedentes na política brasileira. Fica evidente que não é provocada com a anuência das mulheres e muito menos pelos movimentos sociais e feministas. Como eu disse antes, a luta é ininterrupta. Na política, a intensidade da busca é ainda mais árdua, pois esse é um ambiente, ainda, tomado pelos homens que têm o poder de decisão e não nos privilegiam, mas já é possível sentir que eles estão começando a enxergar a necessidade de se dividir esse poder com a fatia que representa mais da metade da população brasileira.
É preciso assimilar sobre a, imprescindível, contribuição que o fim da desigualdade de gênero traria para a economia como um todo. O ideal de democracia e desenvolvimento perpassa, necessariamente, pela melhoria nas condições de igualdade entre as cidadãs e cidadãos de uma sociedade. No Brasil, os aspectos culturais e legais impedem o avanço nessas áreas. E é aqui que falamos sobre os avanços nas questões de gênero. É nesse espaço que podemos reivindicar os direitos de igualdade, garanti-los e efetivá-los.
Nesse aspecto, as mulheres socialistas comemoram o crescimento do número de eleitas no pleito de 2012. Ao todo, foram eleitas 54 prefeitas, um número que representa 152% de crescimento em relação a 2008, pleito em que foram eleitas 21 mulheres do PSB. Os números das eleitas para vice-prefeitas e para vereadoras também são motivos para comemorar. Hoje as mulheres do PSB ocupam 69 cargos de vice-prefeitas e 443 de vereadoras. Todo esse crescimento demonstra que as transformações, que o feminismo efetivou na sociedade, estão sendo reconhecidas de maneira a conferir às mulheres legitimidade para representar a cidadania e as bandeiras socialistas nas respectivas gestões.
SNM – Como é trabalhar as questões de gênero em um partido político?
Dora – Não é fácil, mas já foi bem mais difícil. Porém, é muito estimulante, desafiador e gratificante, principalmente, ao percebemos os avanços, quando vemos desabrochar, nas atitudes e discursos dos companheiros e companheiras, formas novas de agir e pensar. São olhares de compreensão da nossa luta.
É por meio desse trabalho, dentro dos partidos, que vemos as questões de gênero mudar o imaginário machista que impera nos espaços partidários e do poder público consolidando as políticas públicas de gênero, transformando as relações entre homens e mulheres e, fortalecendo e garantindo autonomia, profissionalização e melhoria de renda das mulheres. Em um partido político, a militância de mulheres tem que ser visibilizada, enaltecida, respeitada e reconhecida, dentro e para fora do partido, considerando que as políticas públicas para mulheres, quando implementadas, foram ideias embrionadas e empunhadas através da luta milenar das mulheres.
O protagonismo das mulheres nos partidos começa quando estas assumem um lugar que antes era de um homem. Mudar essa cultura, esse paradigma, aflora, muitas vezes o machismo adormecido dos homens. Que se revelam pessoas inimagináveis no momento de disputa, na possibilidade real de perda do poder. O poder, muitas vezes, quando afrontado tornam as pessoas irreconhecíveis, daí ser mais fácil, cuidar para invisibilizar as mulheres.
A partir daí o dia a dia é de construção de ideais de uma sociedade mais justa e mais igual por meio da concretização de um modelo de políticas sociais apresentado pelo partido e assimilado pelas administrações municipais e estaduais. É daqui de dentro que trabalhamos de maneira a promover as mudanças necessárias para que nossos atores políticos com mandato assumam nossas bandeiras e venham ser os agentes da transformação que favoreçam, fortaleçam e garantam autonomia e cidadania, oportunidades, enfim, mais equidade de gênero.
SNM – Fale sobre a repercussão das gestões socialistas nos governos do PSB?
Dora – Com muita perseverança temos mostrado a importância do papel da mulher na sociedade e, assim, temos encontrado apoio nas gestões do PSB. O maior exemplo foi a gestão do nosso maior líder, Eduardo Campos, que executou a política mais ousada e competente do país, sendo considerado o melhor governador em todos os anos de sua administração e foi ganhador de prêmios internacionais em política de gênero, inclusive da ONU, como o “Chapéu de Palha Mulher”, e o Mãe Coruja”. Ele fez com que todas as administrações no estado compreendessem a necessidade de se enxergar as mulheres como prioridade, inseridas nas decisões políticas, com orçamento e revisão nos processos, sem esquecer e priorizar a transversalização dessa política.
Também cito outros ex governadores, como Renato Casagrande (ES), Camilo Capiberibe (AP) e Wilson Martins (PI). Na atual gestão, contamos com Paulo Câmara (PE), Rodrigo Rollemberg (DF), e Ricardo Coutinho (PB).
Assessoria de Comunicação/ Secretaria Nacional de Mulheres do PSB