Casos como o assassinato de uma mulher a golpes de faca pelo próprio companheiro, em Tocantins, divulgado nesta última semana, têm repercutido na mídia desde que foi aprovada a lei nº 13.104/15, conhecida como Lei do Feminicídio — e revelado que a sociedade brasileira ainda sofre com a presença marcante da violência contra mulheres. Por isso, achamos que você deve entender melhor essa lei, tão importante para todas nós.
É o homicídio que resulta de violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição feminina. Pode ser o caso, por exemplo, de um marido que mata a esposa por causa de um ciúme exagerado, por um sentimento de posse ou propriedade sobre a vida dela. Oi? A gente sabe que parece absurdo ao ler assim, mas são situações ainda muito comuns e acontecem todos os dias no Brasil.
A principal mudança é o aumento da pena para quem praticou o crime. Com ela, o feminicídio deixa de ser homicídio simples — que prevê de seis a 20 anos de prisão — e passa a ser considerado homicídio qualificado, entrando para o rol dos crimes hediondos, considerados mais graves pela legislação brasileira, com pena de 12 a 30 anos. Além disso, o crime se torna inafiançável e esse tempo ainda pode aumentar de um terço até a metade se a mulher for morta durante a gravidez ou nos três meses após o parto, for menor de 14 anos, maior de 60, com deficiência ou se o crime acontecer na presença de pais ou filhos da vítima.
Estatisticamente, as mulheres brasileiras são vítimas de violência doméstica, sexual ou causada pelo menosprezo de gênero de uma forma que homens heterossexuais não são. O país ocupa o sétimo (!) lugar em homicídios femininos em um ranking internacional que inclui 84 países, divulgado pelo Mapa da Violência de 2012, levantamento feito com apoio da Unesco, por exemplo, e duas em cada três pessoas atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) em razão de violência doméstica ou sexual são mulheres. Outra: 41% dos homicídios de mulheres foram cometidos na própria residência da vítima, enquanto que no caso de homens, o número cai para 14,3%. Se os dados extremamente assustadores tivessem a mesma proporção com o homem, aí, sim, poderia se questionar o sentido de uma lei específica.
Porque a violência contra a mulher é alarmante no Brasil, e isso é um problema de todos. Talvez você já tenha passado pela situação, por exemplo, de ser xingada de “vagabunda” por estar de madrugada em um bar bebendo de shorts e regata — com muitas acontecem coisa pior, como estupro. Um homem, nesse mesmo lugar e com esse mesmo traje, nunca passaria por isso. A lei chama a atenção para a importância de enfrentar esse problema, tratando dos casos que chegam ao seu limite, o assassinato.
Apenas punir não basta para combater a violência contra mulheres. Para vencer a batalha, é necessária uma mudança de mentalidade no país, tanto dos homens, que costumam se enxergar como dominadores, quanto a nossa, que ainda não conseguiu superar culturalmente a ideia de propriedade. Além disso, faltam representantes das lutas femininas no Congresso — nós somos menos de 10% do total de deputados da Câmara — para fazer valer que o mundo é tanto deles quanto nosso. Maria Cândida Luger; Edição – Bárbara dos Anjos Lima |
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Fonte: M de Mulher
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