Desde a última sexta-feira, centenas de pessoas têm tomado as ruas da capital indiana para manifestar indignação contra o estupro de uma menina de cinco anos, que foi supostamente torturada e mantida em cativeiro por cerca de 40 horas em Nova Délhi. Entre cartazes que reclamam segurança pública e o direito de menores, o grande alvo parece ser a atuação da polícia local que esta tendo sua eficácia questionada quando o assunto é casos de crianças desaparecidas.
De acordo com dados oficias do país, cerca de 90 mil crianças desaparecem na Índia a cada ano e mais de 34 mil delas nunca mais são encontradas. Segundo Associação de apoio aos pais, a polícia falha em tomar medidas para combater este tipo de crime. Ativistas pelo direito de mulheres e crianças ainda afirmaram para jornal local que o episódio da semana passada é somente “o mais recente caso em que policiais indianos falharam em tomar medidas urgentes para reportar o desaparecimento de uma criança”.
Os protestos se intensificaram na tarde de ontem, depois que informações de que os investigadores teriam oferecido à família da vítima um valor de duas mil rúpias (R$75) para que não registrassem queixa vazaram para a mídia. Os pais da menina de cinco anos afirmaram ter procurado autoridades para reportar o sumiço da filha, porém mesmo depois de implorarem para que o caso fosse registrado a polícia se recusou a tomar providências. Três dias depois, ela foi encontrada na casa de um vizinho da família.
Manoj Kumar, de 22 anos, foi preso e é acusado de ter sequestrado a menina no dia 14 de abril. Um segundo suspeito de envolvimento no crime foi preso ontem.
Apesar da aparente rapidez em localizar os criminosos, o grupo indiano Movimento Salve a Infância reclama que a mesma polícia que se esforça para solucionar crimes públicos não é competente o bastante para tomar ações rápidas no momento de encontrar e reportar o sumiço de crianças. Conforme pesquisa realizada pelo grupo no ano de 2011, apenas um sexto dos casos de desaparecimento de menores são registrados no país. Para eles, o dado se explica pelo desejo “de não aumentar as estatísticas criminais”.
No mês passado, a ministra da área de Desenvolvimento de Mulheres e Crianças da Índia, Krishna Tirath, afirmou ao Parlamento que o problema de crianças desaparecidas havia assumido proporções “alarmantes”. O Departamento Nacional de Registros Criminais informou que 34.406 menores nunca mais foram encontrados no ano de 2011. Os números aumentaram consideravelmente desde 2009, quando 18.166 crianças jamais foram localizadas.
Conforme informações locais, a vítima se encontra em condição estável e está internada no melhor hospital público da capital indiana. No último domingo, a imprensa indiana estampou indignação em suas manchetes. “Délhi em cólera sai às ruas”, escreveu o jornal Sunday Pioneer.
O país começou a discutir soluções para os constantes crimes de violência sexual após a morte de uma estudante de 23 anos em dezembro do ano passado, depois de ela ter sido estuprada e agredida por seis homens em um ônibus da capital.